quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Passado, Presente e Futuro



Já dizia a minha avó: “Não podemos mudar o passado, só nos resta viver o presente e esperar pelo futuro”. Se quando criança eu escutava isso admirada – e um pouco assustada-, hoje eu penso que na verdade, isso é relativo. O hoje é o passado de amanhã e o nosso presente. Temos assim, de certa forma, o passado em nossas mãos. Mas se isso fosse levado em conta, haveria bem menos arrependimentos nas pessoas. Quantas lembranças de péssimos dias temos? E analisando, quanto poderíamos ter feito para ao menos, amenizar isso? Em uma palavra? Muito.

Perdemos tempo pensando o que poderíamos ter feito para mudar alguma coisa e com isso criamos um circulo vicioso. Deixamos de prestar atenção no nosso presente, deixamos de tornar o dia de hoje especial, perdemos a chance de criar uma boa lembrança para o Futuro. Lançando mão de um ditado conhecido, “Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje”, eu digo: “Não deixe para amargar o passado, se você pode fazê-lo hoje”

Realmente, não podemos deixar para amanhã as coisas de hoje. Se não, quando nos dermos conta, elas serão apenas mais arrependimentos para o Futuro. Tudo é tempo, somos feitos de tempo. Temos tempo de vida; de felicidade; de tristeza. Há tempo para chorar, para se curar; para aprender; esquecer. Arranje tempo para cantar, para conversar. Crie um dia bom com a sua mãe, com o seu pai, fale do tempo com o seu irmão. Tenha coragem para dizer que ama aquela pessoa, tanto você quanto ela, se lembrarão disso. Leia um livro e veja um filme. Se há tempo para cumprimentar o vizinho, por que não fazê-lo? Pense que amanhã ele pode ser seu chefe e vai lembrar que no passado, você o ignorava. Tenha um bichinho de estimação – acredite, você se lembrará rindo de quando ele destruiu o seu sapato mais caro.

Dias ruins são inevitáveis, mas passamos por eles com a certeza de logo serão apenas, passado. E mais do que tudo, não podemos esquecer de aprender com aquilo que já vivemos. Situações se repetem, as ações podem ser diferentes. Já aprendemos que “não adianta chorar pelo leite derramado”, sendo assim, tenhamos mais cuidado ao tirá-lo da geladeira.

Preocupação com o futuro é valida, mas não podemos permitir que isso nos tome por completo, ou ficaremos sem passado.

Anestesia




Sabe aqueles momentos tristes, em que estamos realmente para baixo ou extremamente irritados, magoados? Em que tentamos desesperadamente e inutilmente fugir da dor, que tal situação ou palavras nos causaram? Tentamos desviar nosso foco, prender nossa atenção em outra coisa. Quer um bom exemplo? Experimenta estar puta da vida ou se sentindo traída e pega um vídeo game de tiro (resident evil), não há nada mais terapêutico, ao meu ver, do que estourar cabeça de zombie. Outras pessoas extravasam escrevendo musicas; poesias; fazendo exercícios; dançando que nem doidos em uma boa festa ou o clássico: se afogando em um bom e acolhedor copo de vodka (esse último tem efeitos colaterais bem pesados, então não reclame se acordar ao lado de um estranho ou até do mendigo da esquina).

O ponto é: tentamos fugir, aplicar nossas energias e transferir nossos sentimentos para o que quer que estejamos fazendo. O efeito ás vezes é imediato, nos alivia tirando até um peso do peito,
como uma anestesia. O problema é que ás vezes a dor volta ,quando não, ainda restam as cicatrizes, ás vezes profundas ou bem superficiais para os sortudos. Mas sempre sabemos que elas estão lá, marcadas, entranhadas em nós... ou quem um dia existiu.

Não importam os anestésicos que usamos ou a tentativa
para esquecer. O jeito é seguirmos em frente, na tentativa de nos tornarmos fortes ou pelo menos fortes o suficiente para lembrarmos sem sentirmos dor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Veríssimo




Gosto muito do Veríssimo. Gosto do jeito que ele usa as palavras, dos vários sentido que ele emprega. A maneira solta que trata de assuntos cotidianos e importantes... as criticas ironizadas. É sempre um leitura agradavél e eu sempre me pego pensando em várias coisas.

Quem nunca ouviu a expressão: " O que é um peido pra quem ta cagado?". Pois é... Vamos ao fatidico dia.



Um dia de MERDA!

Por: Luiz Fernando Veríssimo


Aeroporto Santos Dumont, 15:30 . Senti um pequeno mal estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse Mas, atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as pontas . Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. ” Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo .” O avião só sairia as 16:30.

Entrando no ônibus, sem sanitários . Senti a primeira contração e tomei consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto. Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil, falei: “Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro”

Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força de vontade para trabalhar e segurei a onda . O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante:

“Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno de 1 hora, devido à obras na pista .” Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo. Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento. Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava me distrair vendo TV mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele . E o papel higiênico então: branco e macio, com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia cagado .

Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que da vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar na privada . Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal .

Mas sem dúvida, a situação tava tensa . Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de solidariedade, e confessei sério : ” Cara, caguei.” Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou – me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle . ” Que se dane, me limpo no aeroporto ” – pensei . “Pior que isso não fico .” Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte . Arregalei os olhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e sem muita cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de merda . Desta vez, como uma pasta morna.

Foi merda para tudo que e lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés . E mais uma cólica anunciando mais merda, agora líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade . E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei segurar, afinal de contas o que era um peidinho para quem já estava todo cagado . Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa . E me caguei pela quarta vez .

Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca , mas colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pelos do rabo junto . Mas era tarde demais para tal artifício absorvente . Tinha menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada .

Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas.

Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei a falta de papel higiênico em todos os cinco . Olhei para cima e blasfemei: “Agora chega, né ?” Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que conclui como sendo o fundo do poço ) e esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no meu dia .

Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o ” check-in ” e ia correndo tentar segurar o vôo . Jogou por cima do boxe o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de minha parte . Ele tinha despachado a mala com roupas . Na mala de mão só tinha um pulôver de gola “V”. A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus .

Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis . Minha cueca , joguei no lixo . A camisa era história . As calças estavam deploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor tingidas pela merda . Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10

Teria que improvisar . A invenção é mãe da necessidade, então transformei uma simples privada em uma magnifica máquina de lavar . Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água..

Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu . Estava pronto para embarcar . Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calcas do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola “V”, sem camisa . Mas caminhava com a dignidade de um lorde.

Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam esperando ” O RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO” e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que sorria . A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo . Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir: ” Nada , obrigado . Eu só queria esquecer este dia de merda !!! “